sábado, 4 de janeiro de 2014

Memórias falsas.

 A memória por vezes tende a enganar-nos. Isto não é nenhuma metáfora nem nada de extraordinário, simplesmente a nossa mente pode ser facilmente influenciável quando nós não temos uma recordação suficientemente clara de um acontecimento.
 Tendo isto em conta, a memória pode ser modificada facilmente. Por exemplo, ao relembrar um natal passado em família, por obra da imaginação facilmente nos aparece a imagem da lareira acesa, mesmo que nesse respectivo natal, ela estivesse apagada. De qualquer forma este é um erro normal, onde é apenas alterado um pormenor da recordação, é um erro comum e aparentemente não é grave. Mas pode ser. Num crime, qualquer pormenor deste tipo pode ser relevante, por isso é que convém haver varias testemunhas, porque mesmo que se queira dizer a verdade, uma pessoa não pode garantir de que tudo o que se lembra seja realmente a verdade. Bom mas a mente nestes casos é apenas influenciada pela imaginação e pelo o tempo que já decorreu desde o acontecimento relembrado e pouco mais, mas a mente pode ser influenciada também por outras coisas.
 A hipnose por exemplo, pode ser suficientemente forte para modificar o passado inteiro de uma pessoa na sua mente. Porque nos deixa num estado onde o que influenciado é o nosso sub consciente que por sua vez é mais vulnerável que o consciente. Assim se nos quiserem implantar uma ideia na nossa mente, é fácil através deste método. Podemos observar este processo no filme 'Trance' em que uma Psicologa faz com que ela desapareça da memória do namorado ao aperceber-se de que ele esta a ficar obcecado por ela. http://www.youtube.com/watch?v=rvTW1JecmZo
Também podemos observar este processo no filme 'Inception' onde são implantadas ideias através do subconsciente mas em vez de ser por hipnose, são implantadas por sonhos. http://www.youtube.com/watch?v=66TuSJo4dZM
 Este método dos sonhos já é mais complicado de acontecer, tendo em conta que no filme é um processo feito com uma determinada maquina da qual a ciência ainda não conseguiu alcançar mas, eu acredito que este método seja possível para as pessoas que tem um desenvolvimento mental maior do que a maioria das pessoas, como os budas por exemplo.
 Dito tudo isto, percebemos que realmente a memoria pode ser influenciada ao ponto de muitas coisas de que nos lembramos sejam mentira.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

O mito da homofobia

Durante uma conversa recente com uma amiga de muitos anos, estivemos a discutir as origens da homofobia. Um fenómeno por si estranho. Muitos parecem concordar que esta teve origem com a propagação de ideais cristãos, no entanto, nos tempos que correm poucas pessoas parecem ainda ter fé nesta religião aparte das gerações mais velhas. Mas a homossexualidade continua ainda a ser considerada errada entre muitos jovens. Porque?
Ao questionarmos este fenómeno a maioria das pessoas dar-nos-ão quase sempre as mesmas respostas padrão, repetidas uma e outra vez até a exaustão e muito raramente questionadas: "não é natural, não é normal", "não permite a propagação da espécie", "é uma doença", "é nojento", "não quero que se atirem a mim", entre imensas várias outras.
Mas sinceramente, se realmente acreditam naquilo que estão a dizer, parecem-me ser razões extremamente pequenas e inofensivas para virem a odiar alguém ou a um grupo por estas. Por vezes parece-me ser quase um "ódio" desonesto e forçado, um mero acto.
Não acredito que nenhum ser humano tenha uma propensão natural para a homofobia, esta é um valor adquirido e transmitido de geração em geração, é algo aprendido e não parte directamente do sujeito.
Sempre vi este estranho acontecimento como uma espécie ou variante de bullying. 
A vítima pouca culpa tem aparte do facto de ser uma minoria que não tem como se defender e talvez ser um pouco diferente do considerado normativo. O simples facto de estar em desvantagem torna-a um alvo fácil e desejável.
E poucos são os que defendem as mesmas com medo de entrar eles também na mira dos agressores, algo que vemos frequentemente em casos de bullying, o silêncio destes contribuí para a perpetuação deste comportamento.
Estranhamente, é socialmente aceitável e visto como a norma ser homofóbico, e crimes de ódio contra a comunidade homossexual são frequentemente aplaudidos ou mesmo vistos como algo engraçado e cómico. 
O agressor ( fisicamente ou psicologicamente) sente-se engrandecido pelo suporte da comunidade que raramente o questionará com medo que a sua heterossexualidade seja também questionada, e poderá mesmo até vir a sentir-se como uma espécie de justiceiro, vendo o seu acto como um favor à sociedade. 
A sociedade, no entanto, nunca pediu-lhe tal favor ( pelo menos não honestamente ), mas também não parece ter a coragem suficiente para mencionar este facto. 
É lamentável que uma forma de pensar tão tóxica seja ainda tão prevalecente nos dias que correm quando esta poderia ser tão facilmente solucionada se simplesmente não tivéssemos tanto medo da opinião pública e conseguíssemos defender-nos uns aos outros quando a ocasião o requeresse, e é também irónico que o nosso próprio desejo de sermos aceites prejudique quem verdadeiramente necessita ser aceite. 


Apple e o Fetichismo da Mercadoria

Karl Marx  mostra na sua obra "O Capital" que a mercadoria que produzimos quando acabada perde totalmente o seu valor real de venda, perde-se o conceito de trabalho materializado num artigo e este passa a ter um valor de venda infundado e irreal devido ao valor simbólico que é dado a determinado artigo. A mercadoria acaba quase por ganhar vida própria, ao objecto feito pelo homem ou produzido pela natureza, atribui-se um poder quase que sobrenatural e é prestado culto.
O objecto perdendo o seu valor real e representando algo, quer seja cultural, social, estatuto, ganha assim uma nova conotação, um novo valor exacerbado que não corresponde aquilo que realmente é.
Um exemplo disso, é a marca Apple de Steve Jobs.
Uma marca que cresceu e se tornou das mais fortes e influentes do mundo, e que tudo o que produz é adorado por milhões de consumidores em todo o mundo, que se submetem às maiores loucuras para adquirir um produto que, apesar dos seus preços extremamente elevados, e´ desejado e tornado quase uma necessidade para esses consumidores.
Esta marca alcançou um certo estatuto social, em que já não é o produto que realmente interessa mas sim o que ele representa. Steve Jobs conseguiu que os seus produtos fossem sinónimo de uma atitude mais moderna e vanguardista, preocupada com o design e estética.
O caso do Iphone é o mais flagrante.
De todo um variado leque de opções de diversas marcas de telefones, o Iphone tem sido a principal escolha. Com um preço exageradamente alto para um mero objecto de telecomunicações, este tornou-se quase um objecto "must-have" de qualquer pessoa. Conseguiu que apesar de outras marcas apresentarem opções por vezes mais baratas e com melhores funcionalidades, o Iphone é o principal escolhido pois tal como disse anteriormente, não é por ser melhor, é por representar todo um novo estatuto social.
A Apple é conhecida pela sua capacidade de inovação. Esta é a marca que faz as pessoas passarem 2, 3 dias numa fila para adquirir um produto Apple e poderem dizer: “eu comprei o primeiro iPhone 4 do mundo”. A Apple é conhecida por criar não apenas tecnologia, mas objectos de desejo.E objetos de desejo são o sonho de todo capitalista. Os objectos de desejo trazem em si a aura que esconde o que realmente a mercadoria é, que esconde que aquele objecto pelo qual muitos pagam centenas de euros, não é mais nada para além de um amontoado de peças que funcionam sob comando de um software, tudo produzido a custos ridiculamente mais baixos do que aqueles  que chegam ao consumidor. Os objectos de desejo escondem que aquela mercadoria é produto das relações sociais, relações sociais que muitas vezes não são harmoniosas, mas resultado de formas de dominação e exploração. Os objetos de desejo produzem o fetichismo da mercadoria. Ao consumidor não interessa quanto paga, se está a ser enganado pela sociedade capitalista ou não, apenas lhe interessa obter o produto.






terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Auto-estima

Uma das características da sociedade, a nível praticamente mundial, é o consumismo. Somos bombardeados com publicidade para todo o tipo de coisas, principalmente coisas que não nos fazem falta. Crescemos sempre a querer mais, o que tem tendência para se agravar com o tempo - conseguimos o que queremos, então procuramos ainda mais, porque percebemos que não é aquilo que nos vai fazer felizes, mas sim outra coisa qualquer que vimos no centro comercial. Ao sermos influenciados por anúncios que nos fazem crer que só seremos bonitos como aqueles modelos quando usarmos aquele produto, ou só seremos bem sucedidos quando tivemos aquele carro, ou até mesmo por "publicidades disfarçadas" que estão à nossa volta diariamente, como as redes sociais, programas de televisão, etc, em que a futilidade é o que mais sobressai, acabamos por sentir um vazio interior pois toda esta informação e este mundo de possibilidades à nossa volta não nos faz sentir melhor connosco próprios, cada vez vai acabando mais com a nossa individualidade, auto-estima e essência de cada um de nós.
Somos criados para sermos todos semelhantes, mais fáceis de atingir com estratégias de marketing, somos levados a diminuir os nossos horizontes, pois de outra forma não nos encaixamos na sociedade em que vivemos. Temos todos os mesmos gostos, temos as mesmas roupas, os mesmos hobbies, a mesma vida. Mesmo que nos consideremos diferentes, é complicado atingir aquele estado de espírito de liberdade em que sabemos que somos o que queremos ser e vivemos o que queremos viver na totalidade. Muitas das coisas que queremos já as esquecemos, e outras vamos esquecendo ao longo do tempo. Porque o mundo não tem lugar para isso, para os nossos sonhos, dá muito trabalho controlar uma sociedade cheia de ideias e sonhos, com a mente aberta, que lutam por tudo o que de fundo querem. Em vez disso, é mais simples atacarem-nos com produtos e fazer com que pensemos que a nossa vida fará todo o sentido com eles. É mais fácil trocar os sonhos por coisas que podem ser compradas. Acabamos por nos esquecer do que queremos no fundo, e deixamo-nos consumir pelo consumismo.


segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Swag man

O que é um Swagman?  
Será um homem com swag?
        Pois essa será a primeira ideia que virá à cabeça de quem está habituado ao termo swag utilizado entre os adolescentes, mas olhando para a imagem abaixo denota-se algumas diferenças entre esse termo e homem.
       Pois bem, um swagman é um trabalhador australiano ambulante que carrega seus pertences pessoais em uma mala enquanto viaja em busca de trabalho.


 
 

        Mas não será de swagman que irei falar, mas sim do termo que parece ser tão adorado entre os adolescentes, o SWAG.

      “v.intr.
      1.     To walk or conduct oneself with an insolent or arrogant air; strut.” (The free dictionary)

         Depois de uma pequena busca descobri que este termo provem da palavra swagger, um termo escocês utilizado para definir uma forma de caminhar, forma essa oscilante, confiante, que demonstra carisma, carisma esse que os “swaggers” tentam demostrar. Adotam esta palavra como sendo sinónimo de estilo.
         O Swag não é muito mais do que outra moda/estilo social, é uma forma dos adolescentes se sentirem populares, mas com certo ironismo aparece como uma forma de expressão de despreocupação relativamente ao que os outros pensam ou dizem, vestir o que se quer e ouvir o que se gosta, um pensamento correto se fosse como seria suposto, uma forma de combater o preconceito, mas não passam de uma ilusão, sendo eles os primeiros a preocuparem-se com o que possam dizer deles, escondendo-se atrás deste estilo por saberem que assim serão socialmente aceites, pois terão "swag" tal como os outros.
         
          Swag, divisão, seleção de grupos de pessoas por algo tão subjetivo como estilo.
    
         Os jovens que seguem este estilo gostam de se achar diferentes dos outros, quando não passam de produtos em série, todos com o mesmo estilo, personalidade e necessidades. A escolha de roupa passa pela utilização de bonés que demonstra corretamente a sua alienação, com referências a equipas de desportos que não seguem, nem ligam, mas que insistem em utilizar. Em acréscimo estes produtos também vêm com uma grande necessidade de atenção que tentam ocultar pelo “estilo”, demonstrando que não se afetam mas utilizando redes sociais como refúgio onde procuram ter cada vez mais seguidores e gostos nas suas fotos e publicações.
        
           Não sei se a melhor definição para Swag não seria alguma das palavras escolidas pelo Watsky no seu video.


 

Consciência: inibidora e um obstáculo à acção?

    Marx dizia, “não é a consciência que determina a vida, mas sim a vida que determina a consciência”. A nossa consciência é fruto do mundo em que vivemos, do contexto social que conhecemos, e como seres humanos e com consciência individual, somos confrontados com a realidade e com a necessidade de fazer escolhas e tomar decisões. Desta forma, pode a consciência ser inibidora e um obstáculo à acção?

    A consciência surge em nós como capacidade de nos apercebermos do que fazemos. Sem ela, somos como qualquer outro animal que age unicamente por necessidade ou por instinto, reagindo assim de forma automática. Torna-se assim uma componente da acção. Ao sermos dotados desta, antes de agir, pensamos e esse pensamento pode surgir como obstáculo.
    A hesitação é o resultado da consciência: queremos agir, mas por vezes a nossa acção é travada pelo pensamento. Surge como fruto dos nossos medos, ou como uma análise da eficiência ou utilidade da nossa acção. Em certas situações a consciência leva-nos à reflexão sobre a decisão, e ao levar tempo a ser tomada ou ainda ao ser contrária à vontade inicial, pode impedir a realização do nosso desejo. Já Hamlet, no terceiro acto da peça de Shakespeare, dizia “Thus conscience does make cowards of us all” (A consciência faz de todos nós covardes). 

    Em todo o caso, a escolha é sempre acção, e provém sempre da nossa consciência. A escolha tomada, independentemente desta ser a que inicialmente queria, é resultado do julgamento que o sujeito fez, julgamento esse que pode ou não ser posto em questão pela sociedade que o envolve. Não existe acção reflectida automática, e toda acção surge como fruto da consciência e da vida e mundo em que estamos. 
    A consciência é o que nos permite saber o que estamos a fazer, nasce com o sujeito, e não é à partida a verdadeira inibidora da acção. O mundo em que nos encontramos, o nosso contexto social, as nossas relações com o próximo é que tornam essa consciência inibidora. Mas apesar da escolha do sujeito ser posta em questão, a acção “para bem ou para mal” acaba por ser realizada. O sujeito não é impedido de realizar a acção porque acaba por realizá-la, de uma maneira ou de outra. Sendo assim, a consciência é de certa forma inibidora, mas não é propriamente um obstáculo à acção do sujeito.

Necessidade das Séries


The smart thing in the art world is to have one good idea and never have another.
Brian Eno

        A grande prova do sucesso desta receita é exactamente todos os artistas extablecidos a seguirem, desde Damien Hirst ,Dan Flavin, Anish Kapoor, Thomas Ruff, Donald Judd … todos eles não só possuem  uma produção artística em autenticas escalas industriais, bem como executam na perfeição a nossão primitiva de desejar um objecto.
        Através de constantemente sermos confrontados com as séries serigráficas de Andy Warhol ou as esculturas de Jeff Koons, mesmo que inicialmente a primeira sensação causada pelos mesmos nos seja  de indiferença, após grande trabalho de marketing e de exposição, algo começa a mudar. Começamos assim não só a apreciar o sentido mais profundo de imagens perfeitamente comuns… como começa a crescer o desejo de as obter e das coleccionar.
Actualmente não divergindo muito do mundo de produtos consumíveis, onde se não existir um confronto constante através dos mais diversos métodos de publicidade e divulgação.
Existe cada vez mais um paralelismo entre a produção artística e produtos do dia, contudo num progressivamente mais próspero mercado de arte, os artistas porem tem a necessidade de criar ícones para alimentar a constante procura dos coleccionadores. Gravuras e serigrafias cada vez mais estão em voga, registando não só recordes monetários, como quantitativos em leilioeiras como a Phillips, Christie’s e a Sotheby´s.
Ao obter uma serigrafia ou gravura, não é apenas um exemplar artístico, como ainda é relativamente mais acessível que um original.


                                       
Colour dots, Damien Hirst, 2012

Disconnect to Connect



Há cerca de um ano, o meu pai mostrou-me um vídeo no youtube com um título bastante interessante - Disconnect to Connect 

De uma  forma muito sucinta , posso descrever o vídeo dividindo-o em duas partes: na primeira, são apresentados diversos momentos de pessoas "agarradas" aos seus telemóveis. Supõe-se que estas se encontram acompanhadas, no entanto as outras pessoas não aparecem. Há então um momento essencial no vídeo - aquele em que as diversas pessoas que estavam com os seus telemóveis, o desligam ou guardam. Aí, entra a segunda parte do vídeo: todas aquelas pessoas que se encontravam  aparentemente invisíveis, aparecem; e as pessoas que inicialmente estavam com os telemóveis, apercebem-se finalmente daquilo que as rodeia: a filha que está a fazer um desenho, o passeio à beira mar, etc.
Este excelente anúncio, produzido pela operadora tailandesa de telemóveis DTAC, fez-me, no mínimo, pensar um pouco.
Karl Marx afirma que, com o crescente poder do mundo dos objectos, aumenta em proporção directa a desvalorização do mundo dos homens. Á medida que o trabalhador se vai esgotando a si próprio, mais poderoso se torna o mundo dos objectos. O trabalhador vai ficando cada vez mais pobre na sua vida interior e cada vez menos pertence a si próprio.
Actualmente, assististe-se a uma maior fidelidade às coisas, objectos, do que às próprias pessoas. É mais importante dar atenção à nova notificação no telemóvel do que à filha que cresce. Cada vez mais nos tornamos escravos dos objectos, dominados por eles, e estranhamente isso consola-nos, torna-nos confortáveis e felizes. Tudo isto revela uma felicidade “pobre”, um vazio da vida interior. Tudo isto afasta-nos do que realmente interessa, da verdadeira vida interior.

Deixo então o link do vídeo que me impulsionou à realização desta reflexão, mostrado pelo meu pai que, ironicamente, trabalha na Optimus, no departamento de marketing. 
 http://www.youtube.com/watch?v=7ae0tzVo8Fw
Espero que gostem e que no final também ponham de lado os vossos telemóveis!!

有许多环境友 [i.e., amigos do ambiente há muitos]

Este fim-de-semana foi necessário um saco forte, que aguentasse transportar um certo volume de coisas pesadas, e encontrou-se um, 
daqueles "amigos do ambiente", habitualmente à venda nas cadeias [substantivação apropriadíssima] de supermercados, com o nome da marca impresso e bem visível (caso estranho em que, sob um certo ponto de vista, se paga para usar publicidade), mas também pontualmente oferecidos, por exemplo, com os jornais semanários. Há uns meses vinha um de oferta com o Expresso, em parceria ecológica com a ex-electricidade de portugal:


A criação deste saco surge integrada num plano de um ano inteiro dedicado pelo jornal ao tema do ambiente, cada uma das 52 edições com reportagens diferentes e dossiers aprofundados, publicados em várias partes ao longo de várias semanas, muitos dos quais patrocinados por empresas portuguesas que procuram mostrar elevadas preocupações ambientais. 
A ilustração usada vale milhares de palavras, ou pelo menos algumas reflexões soltas na senda do espírito apocalíptico deste blog: 

  • No seu design infantil e nada inocente, nas "boas práticas de gestão ambiental" ou no papel de Noé salvador de espécies em perigo, com (b)arca atracada no Lago Alqueva, a edp acaba por revelar, sim, a violenta ambição do seu programa empresarial, e a vermelho bem vivo, para avisar do perigo. Que natureza é esta que a edp vê? Um par de árvores e arbustos, três girassóis, duas espigas --- tudo o resto campos e montes desertos. De animais, quase apenas os de "criação": galinha, pintos, coelho. Animais "naturais": uma caracoleta, a coruja que já não tem sítio onde se esconder; ao longe, a reintroduzida águia da edp, com direito a texto de apresentação mais abaixo no saco. 
  • A bicicleta do cliente e leitor do expresso deverá ser eléctrica, para o ajudar a percorrer estas longas paisagens abandonadas pela natureza mas não pela edp; 
  • o próprio balão será um dia eléctrico, pois a edp domina também o vento, e pontilha com as suas hélices gigantes os horizontes das auto-estradas, e são eles os objectos em maior número na ilustração, talvez a par dos girassóis  porque a edp também tem um pé na energia solar, e dos pintos, embora um dos três tenha ficado para trás, na contemplação desolada das duas últimas espigas de cereal do mundo, desfazendo o trio como que para explicar a falta de interesse da edp na criação avícola doméstica, estando por ora mais concentrada nos altos vôos da singular águia pesqueira.
  • Ao cliente-edp-leitor-do-expresso sugere-se que explore a natureza ao alcance da bateria da sua bicicleta eléctrica. Em Portugal já é pouca e muito escondida. Follow the white rabbit deixou de ser uma opção, o coelho cansou-se de esperar, resignou-se, engordou, já não cabe na toca. Está parado. Já não te irá conduzir a lado nenhum, agora tens a edp e o expresso e tens que defender o planeta.



  • Esta recente imagem corporativa da edp, criada por alturas da privatização (vide manual da marca), tentou suavizar a imagem da empresa num momento em que se acumulavam críticas por destruir património ambiental através da criação contínua de barragens hidroeléctricas. Algumas décadas antes, a imagem da empresa foi a de um relâmpago de energia domado pela força da edp, mas agora não interessaria ter sinais de perigo tão evidentes, a própria caligrafia do logotipo é infantil, ali já não cabe o trovão [a luz expulsou o papão, a edp é o sol que alumia o mundo que perdeu a sua cor].  
  • O grosso desta imagética está reproduzido em três dimensões cinéticas nas grandes montras da sede da empresa em Lisboa, na esquina da Praça Marquês de Pombal com a Avenida Fontes Pereira de Melo, e também em duas dimensões estáticas nos tapumes das obras da colossal futura sede, entre a Avenida 24 de Julho e a Rua D. Luís I, por enquanto tão-só um poço infernal a céu aberto, ali mesmo em frente à Adega do Lagarto, coio de cultura alfacinha.
  • Entretanto, continuam a ser construídas duas das barragens mais contestadas por biólogos e associações ambientalistas, a da Foz do Tua e a do Baixo Sabor. Ironicamente, uma boa fatia da população local parece aprovar a obra. É difícil esquecer aquela troca de palavras entre António Mexia, face da edp antes e após a privatização, e José Sócrates, o primeiro-ministro, em passeio mediático pelo início das obras de uma dessas barragens, no documentário Pare, Escute e Olhe (interessante banda-sonora de Frankie Chavez), sobre as consequências das ditas barragens e o fim das ferrovias na região. Diz o primeiro-ministro (cerca dos 39 minutos e 43 segundos), fazendo tabula rasa de todos os estudos do impacte ambiental: "Agora só falta aqui é cimento…" 

Uma Pequena Parte de Um Todo

As pessoas não têm todas uma vida igual. Pelo que tenho vindo a compreender, esse é um facto difícil de aceitar por muita gente. Num mundo onde habitam biliões de pessoas, ainda há quem pense que, na prática, existe algum tipo de sistema perfeito que permita a toda a gente ter o mesmo grau de felicidade, como se esta, para além de poder ser “medida”, partisse na sua essência da materialidade e em nada tivesse que ver com a atitude interior de cada pessoa. O mundo só não é justo porque os seres humanos também não são. Cabe-nos a cada um de nós procurar ser justo, independentemente da nossa posição relativamente a uma sociedade. A justiça está intimamente ligada às acções de cada pessoa, individualmente, e não em ideias conceitos ou movimentos generalizados. Em muitas conversas ouvi pessoas queixarem-se disfarçadamente de que outros possuem tudo e da culpa que têm por não terem problemas nenhuns na vida. Às vezes juro que quase os ouço a dizerem baixinho que desejavam ter o mesmo mas, então, o seu sarcasmo fala mais alto e disfarça o murmúrio. Todos temos um papel a desempenhar neste mundo e todos são diferentes segundo os parâmetros humanos do que é bom ou mau. É verdade que alguns são mais facilitados que outros, mas isso não é decisivo para a felicidade; para a verdadeira felicidade, a que preenche verdadeiramente as pessoas. A dificuldade de uma vida não a definirá. De muitas outras coisas depende a felicidade para além das condições de vida e a maioria delas está em nós mesmos. É importante que todos tentemos encontrar a nossa maneira de contribuir para uma sociedade e ficarmos realizados com essa mesma contribuição. Por mais distante e metafórico que pareça, todos nós somos uma pequena parte que pode ser essencial para uma construção sólida de um todo. Uma vez que estejamos a contribuir, o nosso trabalho é sempre imprescindível e mesmo que por vezes nos pareça “menor”- relativamente a outros- ele acrescenta sempre uma pequena e importante parte a algo maior. São precisamente essas pequenas coisas que fazem toda a diferença.

Por isso quando ouço dizer que o trabalho é decisivo no estatuto social de uma pessoa, algo soa a falso. Se faz, não devia fazer. Vejo como as pessoas transformaram essa ideia, repetiram-na para si próprias tantas vezes ao ponto de se convencerem disso e discretamente o têm passado ao longo das gerações. Todo o trabalho digno e honesto, independentemente do seu rendimento monetário, tem o mesmo valor social. O valor social que uma sociedade atribui a um determinado trabalho nem deveria ser relevante. Ser avaliado como trabalhador ou ser avaliado como pessoa pelo meu trabalho são duas coisas completamente diferentes. Depois dizem que o trabalho escraviza as pessoas, quando a única coisa que as escraviza são elas mesmas. Como levam as pessoas o trabalho? Quanto investimos, cada um de nós, naquilo que estamos a fazer por mais detestável que achemos ser? Será que há algum trabalho digno e honesto que seja inteiramente penoso? Parece-me às vezes que fazemos questão de não procurar as pequenas grandes coisas que fazem cada trabalho valer a pena. Aliás, por vezes fazemos questão de alimentar exactamente o contrário.
Quando expostos a situações que nos desagradam e que estão fora do nosso controlo podemos ainda escolher a atitude que queremos adoptar. A nossa atitude estará sempre sobre o nosso controlo e penso que é um grande mediador tanto para a felicidade como para a miséria de espírito. Está claro que é importante garantir as necessidades básicas num ambiente de trabalho e que se deve lutar por aquilo a que se te direito e isso nem é posto em causa. Toda essa luta pode ser feita com serenidade e paciência e isso será muito mais recompensador do que ganhar ódios de estimação. E muita gente tem os seus ódios de estimação no trabalho...

Quando a atitude é bem escolhida e uma pessoa encontra humildade e persistência no que faz, é impossível que o trabalho escravize. Pode sim libertar.

Exploração personalizada

Século XXI, sento-me perante o ecrã do meu computador e pesquiso algo. Deste gesto apenas posso retirar a essência da razão da minha pesquisa - curiosidade, entretenimento, estudo ou trabalho –  nada no gesto, me indicia qualquer tipo de exploração humana. Será em grande parte aquele rectângulo branco que me liga ao resto do mundo. Está na instantaneidade do gesto, que anseia por resultados após 1 segundo da confirmação dada pelo enter, que o homem entende uma nova forma de explorar o seu mundo. Informação listada em links, sem espaço nem tempo, que embora organizada, se afasta da capacidade humana de a percepcionar, tornando-a invisivelmente perigosa. Os browsers trazem consigo a ideia de simplicidade e facilidade em pesquisar dentro da web. É neste enorme repositório virtual de informação que as pistas da exploração são editadas para o indivíduo. Segundo Eli Pariser, o facto de os resultados da nossa vivência online condicionarem os resultados obtidos na pesquisa, está a conduzir-nos a um efeito de ‘bolha’. Este é o efeito da constante personalização baseada em algoritmos que nos devolvem  resultados relacionados com aquilo que já pesquisámos anteriormente, que já demos feedback (exemplo dos ‘likes’), que já partilhámos e que indirectamente está próximo dos interesses dos nossos amigos online. Sem dúvida que este parece ser um bom conceito teórico se pensarmos dentro dos conformes desejáveis no século XXI - eficiência e rapidez. Na verdade, vivemos segundo padrões repetitivos, dentro da nossa bolha de interesses e pessoas, mas temos sempre à nossa disposição um mundo físico a explorar. Extrapolando a barreiras virtuais criadas por estes algoritmos personalizados para o mundo real, poderia colocar-se a situação de um indíviduo que todos os dias percorre determinado caminho, se deparar com um muro físico que o impedisse de tomar um percurso alternativo. A procura pelo conhecimento e informação deve-se expôr sempre na totalidade não editada de hipóteses. A linha que separa a possibilidade de obter resultados personalizados e resultados fora da bolha, é ténue; e coloca-nos entre a extrema personalização e a possibilidade de nos isolarmos do mundo. Enquanto ser humano, o grande passo evolutivo está em aprender e saber trabalhar nas circunstâncias que se geram fora da nossa bolha de conforto, fora do que nos é familiar e esperado.

Do desejo e da busca da forma visual:

O desejo cultural, aquele que se distingue da forma instintiva do cheiro ou de qualquer outro sensor vai condicionar a nossa busca da forma “perfeita”. O afastamento em direção às “nuvens” o “levantar os pés da terra” faz-nos querer um desejo que só por si é alienado dos desejos involuntários dos outros seres naturais. Este desejo nasce com a linguagem, com a representação de nós mesmos, permitindo a nossa própria explicação, o que nos causou, o que nos originou, o falso sentido.
O apreciar a forma está condicionado mais que nunca, os preconceitos formais são os sociais, são os sexuais, são aqueles que surgem no pós-reconhecimento em frente ao espelho, pós-surgimento do ego e da auto-consciência.
Quantos teóricos são negativistas por natureza ao inspirarem uma forma de pensar falsa, em que criticam a própria cultura e o afastamento?

Até que ponto o “super-homem” vitorioso e glorioso de Nietzsche não é o mais natural e a verdadeira ordem? O mais próximo do ético ou correto nunca auferiu na sociedade. O sentido do sentimento de piedade pode também fechar o círculo da percepção das formas, de tudo o que pode ser filmado, fotografado, ou até mesmo pintado. A veneração da forma na pintura é de um valor sagrado em que a piedade anti-Nietzsche nunca poderá interferir com a espontaneidade da forma. Mas esta espontaneidade entra em colisão quando encontra o sentido do que pode ser chamado de individual. O sentido antropomórfico da pintura, do cinema, da fotografia e da arte enquanto alienação pelo próprio ego, é e sempre será uma condicionante maior no pensamento. Detenho-me algumas horas numa reflexão do caminho independente da forma, horas diárias, uma confusão de instintos. 

Do Capitalismo ao Consumo

O começo da revolução industrial impulsionou a criação de um sistema político-económico – O Capitalismo, vinculado ao comércio e ao consumo que por sua vez, produz o maior objetivo deste método, o lucro. A geração de riquezas é uma das capacidades do sistema capitalista, ainda que de forma desigual, pois apenas uma pequena porção restrita da população mundial tem a satisfação de usufruir dessas vantagens e regalias. Apesar das várias contribuições que á primeira vista podem parecer positivas, o capitalismo produziu diversos aspetos negativos na sociedade, através do crescimento exagerado das novas formas de conforto.
O sistema capitalista está ligado à produção em massa e ao consumo na mesma proporção, produzindo com isso o lucro, mas exigindo cada vez mais obtenção de matéria-prima, retirando da natureza uma elevada quantidade dos seus recursos. A exploração constante tem deixado um resultado de devastação profunda no meio-ambiente e no último século, o mundo passou por profundas evoluções e a natureza sempre foi usada nesse processo, porém sem planeamento, a mesma demonstra agora demonstra saturação e incapacidade de regeneração.
A busca incessante por lucros faz com que exista uma grande exploração do trabalho por parte dos proprietários dos meios de produção, intensificando o aparecimento das desigualdades sociais. Estas situações são reforçadas pela falta de emprego, que por sua vez se deve à oferta em demasia de trabalhadores, que consequentemente recebem salários baixos, e ainda são ameaçados pela modernização da produção que retira um número elevado de postos de trabalho. A exploração da força de trabalho aumenta cada vez mais a disparidade económica existente, pois a concentração de riquezas aumenta apenas nas mãos dos poucos que já as possuem.
                Porém a extinção dos valores humanos, é o ponto máximo do capital, despoletado pelo consumo, que se encontra armado por uma série de estratagemas para que as pessoas aumentem gravemente a necessidade de possessão, muitas vezes sem necessidade, pois são apenas forçadas por uma coletividade de anúncios publicitários que as influenciam, para que de uma forma inconsciente, se incorporem num processo articulado pelo sistema. É precisamente nessa busca de aquisição materialista que se perdem os valores humanos, que são postos de lado e perdidos na ânsia de obtenção de objetos que se tornam mais importantes do que a bondade, acabando por eclipsar relações humanas, como amizade, solidariedade e a própria verdade que acaba por ser ignorada, em prole de materialismos e desnecessidades.

RE-conhecer, RE-existir, Re-sistir

Com base numa significação simplificada, pode definir-se ideologia como o conjunto de ideias ou valores defendidos por determinada pessoa, grupos ou institucionalização, a fim de justificar a sua acção. Neste conceito pode incluir-se, por exemplo, o comunismo. É a ideologia numa das suas vertentes políticas, mas com especificidades próprias que em alguns lugares do mundo já foram dominantes não sendo, contudo, globalizadas.

O comunismo, na sua ala mais puritana – a do Marxismo – defende ideais de igualdade social, sendo que o ponto nevrálgico do equilíbrio da Humanidade se rege pela força do trabalho. Ideologicamente, o comunismo defende uma distribuição de riqueza equitativa, valorizando por igual o papel de cada um no todo do proletariado. Para além de coexistir numa hierarquia piramidal através da qual há superiores e subordinados, o Marxismo defende uma hegemonia económica que pretende diluir fossos classicistas e valorizar o papel de cada um na sociedade.
          
           O sistema ideológico Marxista do comunismo nunca vingou em alguma parte do mundo, pela deturpação de que era vitimizado na sua génese. Criaram-se correntes e subcorrentes do mesmo, através das quais eram disseminados ideais adulterados para servir os interesses do topo piramidal, numa filosofia ditatorial e tirânica. Com base nesses exemplos práticos, o comunismo foi, historicamente, estando associado a uma ideologia non grata (não aceite) passando a ser o ideal eleito por pequenos segmentos fragilizados por pertencerem a uma minoria. Em simultâneo com o comunismo, desenvolveu-se o ideal da democracia que vingou na grande maioria dos países ocidentais e ocidentalizados. Contudo, as ideias de justiça e equidade que lhe asseguravam um mar de seguidores começou a revelar-se utópica e muito distante das promessas que disseminava inicialmente.

A resistência, que surgiu sorrateiramente através do processo de hegemonia, no qual uma classe dominante conquista o consenso das classes subordinadas assegurando a sua subordinação, foi sendo fortificada pelos poderes detentores do capital económico. Com o capitalismo não só se assistiu a um maior distanciamento dos valores Marxistas apregoados pelo próprio Marx, como a um gradual desaparecimento da democracia pela resistência defendida pelos chamados donos do mundo. A sua subtileza assente em falsas promessas de riqueza individual, bem-estar social e valorização do ter em vez do ser, conseguiu transformar-se ela própria num ideal de vida irresistível querido pela grande maioria. Aqui chegamos ao conceito de incorporação – através de um processo insidioso de uma ideologia resistente à global é atingido o ponto em que ela própria se transforma na ideologia dominante, assentando o seu poder no lugar da anterior. Tendo o capitalismo revelado a sua cara ditatorial e tirânica, recentemente, assiste-se a crescentes contestações e a uma recusa ao conformismo a este ideal, sendo posto em causa por uma (ainda) minoria à concepção de vida tal como ela se apresenta.

            Tal como Ernesto Sabato nos afirma na sua obra A Resistência (2008), esta crise não é a crise do sistema capitalista, como muitos imaginam: é a crise de toda uma concepção do mundo e na vida baseada na idolatria da técnica e na exploração do homem.     
     
  É essencial RE-conhecer uma consciência mais crítica e uma visão mais aguçada da realidade; RE-existir ao escaparmos às crenças ilusórias mantidas pela classe dominante; RE-sistir de modo a que os seres humanos livres actuem no campo de prisioneiros; ver com os nossos próprios olhos e não com os olhos que querem que vejamos.


           Podemos, deste modo, constatar que a trilogia de Ideologia/Resistência/Incorporação não é mais do que um ciclo da História, apresentando contornos inconstantes, de altos e baixos que produzem oscilações na própria vontade do Homem. A incorporação de qualquer ideologia passa, assim, pela fase de resistência, seguida pela hegemonia. Concluímos que a grande diferença da resistência actual é que a mesma não parte do topo piramidal mas sim da sua base. Chegada a vez da sua hegemonização surgirá um novo ideal, por enquanto desconhecido, mas que trará promessas igualmente irresistíveis à maioria. A característica cíclica da História ensina que tudo se repete. Só o futuro dirá se a próxima ideologia vai dar passos pelos caminhos da deturpação das anteriores.

Insularidade

     Quando se nasce numa ilha, vive-se a ilusão de que o mundo são apenas 17 Km2, uma pista de aviões de pequeno porte, uma escola, um hospital e um posto de bombeiros. Com o passar do tempo tomamos consciência de que o pedaço de terra que os nossos pais nos reservaram, é insuficiente para a nossa existência. Um dia acordamos com a sensação claustrofóbica, mas sabemos que nada podemos fazer – estamos destinados a passar uma parte significativa das nossas vidas rodeados de mar, tendo como escape o imenso oceano que embora nos devolva todos os dias a realidade e a consciência do isolamento, permite-nos projectar na linha do horizonte todos os sonhos que nos fazem crescer e expandir a nossa imaginação. Aqui o tempo é contado de maneira diferente. É a natureza que nos controla o dia e a noite. É o mar alteroso que nos desperta e nos interrompe os sonhos alertando para a nossa vulnerabilidade. Não raras as vezes, a natureza recorda-nos duramente a sua superioridade, a nós, seres indefesos, que habitam um pedaço de terra onde os alimentos escasseiam, onde não há condições para a prática da agricultura porque as rajadas de vento castram qualquer tentativa de fertilização. Aqui, a única coisa que se movimenta são os moinhos. Limitados a ligações externas três vezes por semana, onde as ligações por cabo espreitaram timidamente as nossas casas para depois as abandonarem. Estamos esquecidos no atlântico. Somos o que resta do lado mais ocidental de um continente que desconhece a nossa existência. 



Durante o rigoroso inverno, os limitados 17Km2 reduzem-se a metade. Há um recolher obrigatório que nos torna, a nós humanos, imprescindíveis das relações, do calor, da troca, da partilha, da empatia, da cumplicidade. Somos apenas homeo spiritualis porque aqui temos maior consciência da nossa ignorância face à força da natureza e por isso, agarramo-nos a uma religião que, sabendo que nos ilude, torna-se no único narcótico capaz de tornar os nossos dias mais suportáveis. Aqui, quatrocentas pessoas no mesmo espaço, onde primos casam com primos e o cenário congénito propaga-se a olhos vistos. Aqui, muitos estarão destinados à neurose, à psicose e ao mundo autistico. Somos o lado romantico de uma civilização com a qual não nos identificamos. Vivemos o primitivismo e sentimos a liberdade de quem alimenta uma ignorância induzida pelo isolamento. O conhecimento aqui não se justifica, não alimenta, não constroi...não há condições para usufruirmos da nossa inteligência. Ao sairmos deste pedaço de terra, descobrimos que há um mundo, mas muito diferente do imaginado no contexto insular. Percebemos o quão perdidos e à deriva nos deixaram, e olhamos para uma parte significativa da nossa vida como um autêntico deserto. Decerto, nem todos os dias serão tão negros como esta ilha: o Corvo

Consumir o Natal




Chega a altura Natalícia e somos inesperadamente bombardeados por um enorme excesso de marketing e publicidade dos mais variados produtos. É nesta altura que a sociedade actual abusa da tendência moderna de consumir desenfreadamente bens que não necessita.

Nesta época do ano o gosto pela reunião familiar,prática de boas acções e de oferecer prendas no natal como um acto de demonstrar o carinho está a tornar-se numa desculpa de adquirir os produtos da moda e basear essa compra em sentimentos fúteis.
 Estamos a ser transformados num palco de consumo irrefletido e até mesmo irracional, em que os valores humanos foram substituídos pelos valores que alimentam impulsos consumistas .
O famoso " pai natal",que tirou o protagonismo ao "menino jesus" ( principal razão do natal) é um dos ou mesmo o melhor exemplo do consumismo que vivem as crianças nesta época.

Começam assim desde pequena idad  a mentalizarem-se que têm que ter um bom comportamento para receberem o prémio,que acaba por ser um super-herói de plástico ou a boneca que fala e que aparece na série da tarde. Objetos que na maior parte das vezes é a recompensa pela falta de carinho e atenção dos pais.

Uma época em que é maior o" sentimento de obrigação" de oferecer presentes aos amigos e familiares, em especial às crianças, do que um real valor afectivo.